(Unicamp/2025) Mary Wollstonecraft abre sua obra, Reivindicações dos direitos da mulher (1792), com uma carta ao Sr. Talleyrand-Périgord, antigo bispo de Autun e político ativo durante a Revolução sa. O bispo propõe nova Constituição, o que foi apresentado e discutido na Assembleia revolucionária. Nessa carta, Wollstonecraft afirma:
“Mas, se as mulheres devem ser excluídas, sem voz, da participação dos direitos naturais da humanidade, prove antes, para afastar a acusação de injustiça e inconsistência, que elas são desprovidas de razão; de outro modo, essa falha em sua NOVA CONSTITUIÇÃO sempre mostrará que o homem deve de alguma forma agir como um tirano, e a tirania, quando mostra sua face despudorada em qualquer parte da sociedade, sempre solapa
a moralidade”.
(WOLLSTONECRAFT, M. Reivindicações dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo Editorial, p. 20, 2016.)
Assinale a opção que melhor sintetiza a crítica de Wollstonecraft apresentada no excerto.
A) Ao abordar tanto a possibilidade de uma nova constituição quanto a tirania masculina, Wollstonecraft faz uma crítica ao absolutismo, finalmente derrubado, através da instauração da República e da Declaração dos Direitos do Homem, no contexto da Revolução sa.
B) A crítica de Wollstonecraft recai sobre os homens que, ao serem tiranos com as mulheres, destroem a moral da sociedade. Ela defende a necessidade de uma nova constituição: que não seja injusta com o sexo feminino e conceda direitos às mulheres, ainda que não sejam racionais como os homens.
C) A nova Constituição, defendida pelo Sr. Talleyrand-Périgord, é injusta porque retira das mulheres direitos conquistados em decorrência da Revolução sa, quando as mulheres aram a ser reconhecidas como seres racionais e participantes da humanidade.
D) A menos que seja provado que a racionalidade das mulheres é deficiente, se comparada à dos homens, excluí-las da Constituição é ato injusto, ainda que coerente com uma cultura que aceita a tirania masculina.
RESOLUÇÃO:
Mary Wollstonecraft foi uma das precursoras do feminismo moderno. Em sua obra Reivindicações dos Direitos da Mulher, ela argumenta que, se as mulheres possuem razão, então devem ter o aos mesmos direitos naturais dos homens. Logo, qualquer exclusão feminina da cidadania, como a proposta por Talleyrand-Périgord, seria uma forma de tirania. A autora desafia, de maneira lógica, a estrutura patriarcal ao dizer que não se pode negar direitos às mulheres sem provar que elas são irracionais — o que ela sabe ser impossível. Assim, seu argumento é baseado no princípio da racionalidade como fundamento da igualdade. A moralidade da sociedade, segundo ela, é solapada quando se aceita esse tipo de dominação arbitrária.
A alternativa D apresenta com precisão o ponto central da crítica de Wollstonecraft: não é justo excluir as mulheres da nova constituição se não for provado que são irracionais, e manter essa exclusão é aceitar a tirania masculina como um valor da cultura vigente.
Resp.: D
VEJA TAMBÉM:
– Resolução da questão sobre inserção da mulher no mercado de trabalho, da Fuvest 2023